terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Luisão, o Patrão
Lembro-me muito bem do jogo Benfica vs Belenenses, a 14 de Setembro de 2003 no estádio do Jamor. O novo Estádio da Luz estava em construção e o Benfica, durante alguns meses, fez os jogos em casa no Estádio Nacional. Lembro-me que o resultado foi 3-3 mas o que me fez guardar esse jogo na memória foi a estreia daquele brasileiro enorme e desengonçado: Luisão. Marcou, inclusivamente, um golo nesse jogo! Na altura a herança era pesada. O Luisão vinha rotulado de craque e tinha sido sondado pelo Real Madrid. Pior ainda, os adeptos esperavam um central de nível internacional, com classe refinada, no seguimento dos grandes centrais internacionais brasileiros da história recente do Benfica (Ricardo Gomes, Aldair e Mozer). Aqueles primeiros tempos, quiçá pelo peso dessa pressão e constantes comparações, não foram fáceis. Chegou ao Benfica um central forte fisicamente mas fraco de rins, lento e tecnicamente pouco evoluído. Contudo, com o passar dos jogos e dos anos e com a maturidade (tão importante nos defesas-centrais), esse gigante desengonçado tornou-se, na minha opinião, no melhor central que vi jogar no Benfica. Continua sem ser, e nunca será, um central vistoso e espectacular. Mas também não é isso que se pretende. Naquilo que é realmente importante, dentro e fora do campo, Luisão é o melhor. Dentro do campo, Luisão é um abono para qualquer treinador! Dos vários treinadores que passaram pelo Benfica (e já agora, também pelos 5 que passaram pela seleção brasileira desde a sua estreia), todos eles formaram a sua dupla de centrais com a fórmula Luisão + 1! E não é por acaso… Actualmente, a simplicidade de processos, o posicionamento, a entrega, a maturidade, e a capacidade de liderança do Luisão agregam-se numa só palavra: classe! É impressionante vê-lo jogar, principalmente ao vivo quando podemos ver toda a sua movimentação: não perde um lance pelo ar, está sempre no sítio certo, faz tackles no segundo exacto, atrasa para o guarda-redes ou dá um chutão quando tem de ser, comanda toda a linha defensiva e ainda aparece na área adversária sempre com perigo. É uma bênção e um garante de estabilidade para qualquer central que jogue a seu lado. Teve um papel decisivo para transformar o David Luiz no jogador que é hoje, e vai fazer o mesmo com o Sidnei. O Luisão é brilhante, não pelos parâmetros artísticos de um Aimar ou de um Cristiano Ronaldo, mas sim pelos critérios que guiam um defesa-central de eleição. A sua arte é jogar de modo simples e eficaz, com um perfeito conhecimento das suas funções e capacidades. Para quem se der ao trabalho de analisar, rapidamente pode constatar que o Luisão ganha 90 ou 95% dos lances em que participa. Para além do que joga, aquilo que representa dentro e fora do campo também não ficam atrás. É a voz de comando da equipa dentro do campo, o patrão do grupo de trabalho (juntamente com Nuno Gomes) e é para ele que todos olham quando é preciso reunir as tropas. Tudo isto transformou o Luisão num dos maiores símbolos vivos do Benfica, um dos jogadores mais acarinhados e idolatrados por colegas, treinadores, direcção e, acima de tudo, adeptos! Numa altura em que os jogadores vão e vêm e o Benfica não tem alternativa senão vender as suas jóias (e muto bem vendidas!), Luisão é um jogador à Benfica. Penso que este o maior elogio que se lhe pode fazer. E os números falam por si: 7 anos e meio de Benfica e o estrangeiro com mais jogos disputado pelo Glorioso! Espero sinceramente que possa acabar a carreira no Benfica porque tem ainda mais 3 ou 4 anos de grande nível pela frente. Este gigante da camisola 4, onde se vê escrito “Luisão” mas onde se pode ler “Patrão”.
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